No filme “2001: Uma odisseia no espaço”, de Stanley Kubrick, há uma cena em que dois astronautas almoçam em sua espaçonave enquanto assistem a uma entrevista. O programa é transmitido por meio de uma prancheta de cantos arredondados, em uma tela plana que reproduz áudio e vídeo. Como todo bom filme de ficção científica, vemos uma ideia ou produto que foi realmente adotado em nosso cotidiano: neste caso o aparelho tem a mesma função e a aparência do iPad, com anos de antecedência (o filme foi lançado em 1968).
O filme também determina 2001 como o ano em que tentaríamos viajar para Júpiter e teríamos um computador com inteligência artificial quase humana. Mas, até agora, não conseguimos ir além da lua. E 2001 passou por nós sem o surgimento de um aparelho semelhante ao iPad.
Curiosamente, em dezembro de 2002, foi publicada a primeira edição do “Em Revista” da Aner (Associação Nacional dos Editores de Revistas), na qual havia uma entrevista com Roberto Civita, presidente e editor da Editora Abril. Roberto revela que perguntou para Bill Gates quanto tempo levaria para existir um produto que permitisse a leitura de revistas em uma superfície eletrônica. Gates respondeu que demoraria dez anos, e Civita logo calculou que o processo levaria vinta ou trinta anos. O iPad antecedeu as previsões de ambos, sendo lançado em 2010.
Justiça seja feita, o iPad não é o primeiro tablet do mundo, e sim, o que popularizou o produto por meio de um design elegante e intuitivo, semelhante ao “tablet” do Kubrick. Mas antes dele a própria Apple e a Microsoft tentaram comercializar dispositivos móveis sem muito sucesso.
O primeiro tablet comercialmente produzido foi o GRiDPad, em 1989. Ele usava o DOS como sistema operacional e necessitava de uma caneta digital para receber as informações e respostas do usuário. Ou seja, o primeiro tablet surgiu tendo como conceito um bloquinho de anotações digital. A Apple lançou, em 1993, o Newton, um conceito de computador de mão conhecido como PDA (Personal Data Assistant, assistente pessoal digital em inglês) que também usava uma caneta digital. E a Microsoft, em 2002, lançou o Microsoft Tablet PC, outro tablet com caneta que tinha como sistema operacional o Windows XP.
Mas, em 2003, a empresa Fingerworks desenvolveu a tecnologia de toque para telas sensíveis que seria adotada pelos principais dispositivos móveis da Apple. Por fim, em 2010, é lançado o iPad, com essa tela sensível. Uma das razões para a popularidade do iPad, em relação aos demais tablets, é justamente a sua facilidade de uso, trocando a caneta digital por uma navegação intuitiva com o toque dos dedos. Outro fato importante é que a aceitação foi mais fácil, pois os usuários que já conheciam o iPhone e o iPod já sabiam como manusear o iPad, que usa o mesmo sistema operacional iOS. Além disso, todos os aplicativos criados para o iPhone e iPod já estavam disponíveis para iPad, permitindo que ele já entrasse no mercado com milhares de programas à disposição.
E essa é a história de como um conceito que apareceu em filme de ficção científica se tornou realidade. Resta agora saber se aquela viagem para Júpiter vai demorar muito. Mas o que realmente pode atrasar é esse tal de HAL, o computador assassino do filme…