A publicação por meios digitais é um universo fascinante. Trata-se de um crescente mercado editorial que pode estimular novas formas de narrativa, facilitar pesquisas, integrar dados e informações sobre a leitura e os leitores.
As possibilidades são diversas, assim como são diversas as ferramentas e tecnologias de produção envolvidos, portanto é natural haver muitas dúvidas sobre publicações digitais. Não existe somente um formato digital específico, e sim, vários, cada um com recursos e limitações próprios. Além disso, cada formato diferente de publicação digital pode ter seu próprio método de distribuição e comercialização. Isso sem contar que é um mercado em constante atualização, com novidades surgindo rapidamente. Por isso, empresários e corporações que tenham interesse na criação, publicação e distribuição desse produto devem saber exatamente que tipo de solução eles precisam para definir precisamente qual o melhor formato digital e modelo de distruição desejado.
Neste artigo, buscarei mostrar, para designers iniciantes e leigos, um panorama dessas publicações digitais visando revelar melhor as possibilidades disponíveis no mercado.
O básico da publicação digital
A publicação digital se baseia em um tripé: conteúdo, software e hardware.
- Conteúdo: o conteúdo do livro digital é a narrativa que deve ser assimilada pelo leitor. Narrativa que não está limitada ao texto estático mas pode ser também composta por imagens, vídeos, áudios, animações, formulários, botões e outros recursos que complementam a imersão narrativa do leitor.
- Software: o software é o programa ou aplicativo que interpreta o conteúdo da publicação digital, revelando-o de modo inteligível a um usuário humano. Dependendo da complexidade da tecnologia usada, o software pode oferecer recursos importantes como sistema de buscas e mudanças de fontes, que ajudam no acesso e leitura do conteúdo.
- Hardware: o hardware é um componente físico, material, cujo sistema operacional deve conter o software de leitura de publicações digitais e do conteúdo.
Como exemplo prático, um leitor quer ler “Moby Dick” no seu celular, um iPhone. Pela interface do iPhone, ele acessa um aplicativo específico, chamado iBooks, pelo qual ele baixa o livro digital “Moby Dick” e o lê em seguida na tela do celular. Nesse caso, o hardware é o iPhone, celular multifunção que, além de telefonar, possui diversos aplicativos. O aplicativo iBooks é o software, pois ele permite acessar o conteúdo do livro que está em código e revela esse livro de modo inteligível ao leitor. Por fim, o conteúdo é o arquivo digital “moby_dick.epub”, que o leitor baixou do servidor da Apple para o seu iPhone, e inseriu em seu aplicativo iBooks para leitura.
Perceba-se que esse sistema de acesso e leitura é apenas um entre vários disponíveis, mas todos baseados no mesmo tripé. O leitor poderia optar por comprar um livro digital em formato PDF pela Internet, e ter esse arquivo disponível em um servidor online para acessá-lo em diversos dispositivos, ou hardwares, como seu PC, tablet e celular. Para acessar o conteúdo em PDF, seja no PC ou nos dispositivos móveis, o leitor deve obter um software específico que possa identificar o formato PDF e exibí-lo para leitura, como o Adobe Reader ou também o iBooks.
A multiplicidade dos formatos
Nesse ambiente altamente tecnológico, os modos de produção das publicações digitais e os formatos disponíveis podem mudar frequentemente, uma vez que a tecnologia está em constante evolução e sua obsolescência é constante. Porém, tecnologias específicas têm se destacado ao longo do tempo, principalmente devido à preocupação pela acessibilidade das publicações em diferentes dispositivos ao longo do tempo.
O conhecimento desses aspectos técnicos facilitam na compreensão dos prós e contras de cada tipo de publicação assim como permitem às pessoas envolvidas em um projeto editorial saber o que é possível pedir a um designer na hora de desenvolver uma publicação.
Observação: este artigo usa o termo publicação digital para se referir a qualquer tipo de publicação em formato eletrônico, seja um livro, revista, documento etc. Outro termo comum neste segmento é eBook, abreviação de “Electronic Book” (livro eletrônico), mas que pode ser um termo confuso se aplicado a outros tipos de publicações, como as revistas, que são marcadas pela sua periodicidade ao contrário dos livros. Evite também usar o termo “ePUB”, abreviação para “Electronic Publication” (publicação eletrônica) que se refere a um formato específico de publicação, como veremos adiante.
1. Formato Word e similares
Primeiramente, existem os editores de texto comuns, como o Word, Bloco de Notas, LibreOffice, entre outros. Eles geram arquivos de texto simples, salvos em formatos comuns com extensão TXT, DOC, DOCX etc. Eles são extremamente acessíveis em computadores de mesa e ainda são prioritariamente usados para a edição de documentos no ambiente corporativo e escolar. Uma vez que um escritor opte por escrever nesse tipo de programa, o arquivo final já pode ser considerado uma publicação digital, uma vez que o conteúdo do livro está transcrito em meio digital e pode ser acessado e lido dentro do próprio programa de edição.
Mas esse tipo de arquivo, embora popular e acessível, não é recomendado para o formato final de um livro. Sua função primária é a criação e edição, não o consumo. Ocorre também que o livro aberto nesse programa, além de poder ser lido, pode ser facilmente alterado e editado. Logo, há muito pouco controle sobre o conteúdo deste arquivo. Além desse grave problema, os editores de texto apresentam recursos multimídia e recursos de diagramação de páginas limitados.
O Word e similares são programas para a criação de textos, mas não para o seu consumo final.
Figura 1: Aplicativo Microsoft Word exibindo conteúdo em modo de visualização “Reading Layout VIew”, que simula as páginas de um livro.
Fonte: guidesandtutorials.com
2. PDF – Portable Document Reader
Um formato mais seguro que o Word para acesso a publicações digitais é o PDF, abreviação de Portable Document Reader. O PDF é uma tecnologia da Adobe criada originalmente para substituir, no ambiente corporativo, o uso de documentos impressos pelo uso desses documentos em versão digital. Depois, o PDF se tornou um documento padrão no segmento editorial e gráfico, para o envio de documentos para impressão, pois seu formato permitia ao designer visualizar todo o conteúdo que seria impresso antes do arquivo ser enviado para a gráfica.
Um arquivo PDF pode ser criado por meio de diversos programas. O Word, ao invés de salvar o conteúdo de texto em seu formato nativo, o DOCX, pode exportar esse conteúdo para PDF. Alguns aplicativos da Adobe podem gerar PDFs, como o Photoshop, Illustrator e, principalmente, o InDesign, que é um aplicativo voltado para o segmento editorial.
Seu uso para leitura de documentos se mostrou eficiente no início, porém seu uso para leituras de livros extensos se provou limitado. O PDF é um arquivo pouco flexível, no qual podemos acessar textos e gráficos disponíveis, e fazer pouco mais do que isso.
Figura 2: Arquivo digital com conteúdo de finalidade acadêmica em formato PDF, aberto no software Adobe Acrobat Pro.
Fonte: CEUNSP.
As versões mais atuais do formato PDF adicionaram recursos interativos. É possível inserir vídeos e áudios, assim como hiperlinks e animações em Flash. Mas muitas dessas interatividades se perdem ao acessarmos um PDF em um dispositivo móvel como um eReader ou tablet. Vídeos deixam de funcionar, botões de navegação não funcionam. Isso é um problema crítico, ainda mais quando o principal meio de consumo de eBooks está nos confortáveis dispositivos móveis e não nos computadores de mesa.
Outra séria limitação do conteúdo de um arquivo PDF: não é possível alterar a fonte do texto, nem aumentar ou diminuir o seu tamanho. Isso é inconveniente para pessoas com deficiência visual. Ocorre que, para aumentar a fonte de texto em um documento PDF, é preciso aplicar um comando de Zoom, que aumenta o tamanho da página como um todo na tela de um monitor. Esse aumento faz com que partes da frase do texto fiquem fora da área de visualização, forçando o leitor a ler frases e parágrafos inteiros por meio de movimentos repetitivos com a barra de rolagem da interface. Isso gera uma leitura extremamente desconfortável.
O PDF não pode ter seu conteúdo diretamente editado e alterado pelo leitor, mas ainda é possível alterar esse conteúdo caso o leitor tenha acesso a aplicativos como o Adobe Acrobat e Illustrator.
É possível também, durante a produção do PDF, inserir uma senha para limitar para abrir o arquivo PDF e outra senha para limitar a impressão ou edição desse arquivo PDF. Observe que esse uso de senhas não são métodos comuns no mercado editorial.
Há poucas garantias de evitar a pirataria de um arquivo PDF: uma vez obtido o documento, ele pode ser facilmente distribuído por e-mail. Uma forma de evitar esse tipo de distribuição ilegal é disponibilizando o arquivo PDF para acesso na Web mas sem possibilidade de download. Um exemplo prático é o Issuu, um website especializado em visualizar arquivos PDFs de forma elegante, sendo que você escolhe se o leitor pode baixar ou não a publicação visualizada. O Issuu é o exemplo mais popular por ser gratuito, mas há outras soluções de plataformas online para visualização de arquivos PDF que veremos adiante, na seção sobre os Flipbooks.
O PDF é um excelente formato para distribuição de documentos ou publicações de textos curtos e/ou gratuitos. Textos extensos se tornam desconfortáveis para leitura.
3. ePUB – Electronic Publication
Para contornar o problema de conforto da leitura da publicação digital, principalmente devido a possibilidade dele ser lido em diferentes tamanhos de tela, criou-se o que é, atualmente, o formato mais popular de publicação digital, o ePUB. O ePUB (abreviatura para Electronic Publication, publicação eletrônica em inglês) é uma tecnologia de código aberto (ou open source, o que significa que não é preciso pagar pela tecnologia necessária para se produzir um ePub, pois seus meios de produção são de uso gratuito e livre). Esse formato tem recursos que extrapolam, e muito, a experiência da leitura, pois, além de fornecer o conteúdo textual, permite o acesso a um rico conteúdo multimídia, e a toda a facilitação de pesquisa por meio de metadados. Na sua especificação mais recente, o ePub 3, também é possível inserir hiperlinks, áudios, vídeos, formulários e audiodescrição com muito mais facilidade.
Figura 3: Logo do ePUB (electronic publication), formato de código aberto para livros digitais.
Fonte: International Digital Publication Forum.
O formato ePUB foi desenvolvido para ser extremamente flexível e acessível, e visa também suprir as necessidades de pessoas com deficiências visuais e auditivas. Ao contrário do PDF, a própria fonte do conteúdo de um ePUB pode aumentar ou diminuir à vontade, permitindo que pessoas com dificuldades de visão tenham uma leitura melhor. E, caso o editor use o recurso da audiodescrição, é possível acompanhar o texto por meio do áudio, ou descartar a leitura e acessar o conteúdo apenas pelo áudio, fornecendo além de um livro digital, um audiobook.
A principal força da flexibilidade e acessibilidade do ePUB é o fato de que suas principais tecnologias são baseadas na tecnologia da Web. Porém, seria simplista considerar que um ePub seja apenas um monte de texto montado como um website que pode ser lido offline (sem conexão com a Internet).
A especificação ePUB 3 mostra que esse formato é mais do que um simples pacote de arquivos Web, pois ele consegue enriquecer o conteúdo do livro com metadados refinados. Metadados são informações sobre o conteúdo disposto, ou seja, dados sobre dados. No ePUB 3 posso ter conteúdo de texto extenso sobre uma monografia, mas, através de metadados, posso saber especificamente qual parte desse conteúdo é pre-textual, textual e pós-textual, se a imagem que estou vendo faz parte da narrativa principal ou se é apenas um material de apoio, complementar. Isso é importantíssimo no meio acadêmico.
Figura 4: Aplicativo iBooks mostra conteúdo de livro digital em formato ePub.
Fonte: Editora FoxTablet.
É importante observar que, inicialmente, o ePUB permitia poucas opções de design e integração entre texto e imagem. Isso ocorre porque seu layout flexível, no qual o leitor pode aumentar e diminuir as fontes, ou trocá-las por outras fontes, alteram facilmente a aparência e quantidade das páginas digitais, impedindo o uso de cabeçalhos, rodapés e outros elementos gráficos que costumam ser fixos na posição de uma página. Seu uso era primariamente para livros com textos extensos, com pouca ousadia no uso de imagens.
Mas a especificação ePUB3 trouxe a possibilidade de criar publicações digitais com layout fixo. Ou seja, é possível criar livros em formato ePUB com um design e layout complexo, com cabeçalhos, rodapés, números de páginas, textos que contornam imagens etc. Claro que ao optar pelo layout fixo não será mais possível ao leitor aumentar ou diminuir as fontes, nem alterá-las: esse é o preço por um design mais ousado (mas felizmente ainda é possível selecionar textos e realizar buscas textuais em páginas de layout fixo). Também é possível criar um ePUB na especificação ePUB3 que tenha tanto seções em layout fixo como seções em layout flexível. É preciso apenas decidir o que priorizar em cada seção: a acessibilidade do texto ou o design requintado.
Porém, é preciso alertar que a especificação ePUB3, com seus recursos de metadados ricos e layout fixo, ainda encontra aceitação limitada no mercado editorial. Ocorre que no mercado ainda há muitos softwares que não conseguem usar todos os recursos do ePUB3, estando limitados a exibir publicações na especificação ePUB2. Atualmente, para uma leitura sem problemas técnicos de publicações ePUB3 é preciso se limitar ao aplicativo iBooks da Apple ou a extensão do navegador Chrome chamado de Readium, uma extensão criada pelos próprios desenvolvedores da especificação ePUB, a International Digital Publication Forum (IDPF).
O consumo de publicações em ePUB2 está em alta, enquanto novos softwares mais avançados não aparecem para sanar a questão do ePUB3. Na questão do comércio, há a possibilidade de vender suas publicações em seu próprio website e também em grandes distribuidoras especializadas. No caso de vendas efetuadas pelas distribuidoras, será preciso ceder uma pequena comissão baseada no valor da publicação. As distribuidoras mais populares são a Amazon, a Apple Store, a Saraiva e Kobo.
A vantagem de vender um eBook por uma distribuidora é que você pode potencialmente ampliar o acesso da sua publicação em plataformas muito populares. Há também a vantagem de que alguns sistemas são bem fechados no quesito segurança. Um livro comprado na Apple, por exemplo, fica preso a uma conta Apple ID e não pode ser distribuida via email para amigos do leitor por exemplo. Ou então é possível usar recursos como DRM, Digital Rights Management, oferecidos por algumas destas plataformas, como a Kobo. Com um DRM é possível limitar a quantidade de dispositivos que podem acessar uma publicação comprada, em geral cinco dispositivos no máximo. Isso limita (mas não impede) a pirataria, mas é preciso levar em conta que o leitor geralmente se sente incomodado com estas limitações, sentindo-se lesado como se fosse considerado um criminoso em potencial.
Um detalhe importante: a publicação de um ePUB na plataforma da Amazon irá envolver o processo de conversão do ePUB para outro formato, como veremos adiante.
Outro detalhe importante: além das plataformas de vendas avulsas de livros, há uma nova tendência no mercado, a assinatura para acesso a uma nuvem de livros, ou uma espécia de Netflix dos livros, na qual você paga mensalmente para ter acesso a uma grande biblioteca. Exemplos atuais são o Kindle Unlimited, Oyster e uBook (para audiolivros).
O ePUB é um Formato open source que é barato de fazer e muito popular no mercado editorial. Excelente para textos extensos, pesquisa, uso acadêmico e para acessibilidade aos leitores com deficiência visual. Os recursos mais avançados da especificação ePUB3 ainda estão restritos a poucos softwares e hardwares.
4. Mobi/KF8
A Amazon é uma grande plataforma de venda de livros digitais, mas que não aceita o formato ePUB. Ela usa um formato proprietário, similar ao ePUB, mas cujo acesso é limitado para leitura em dispositivos Kindle (que pertencem à Amazon).
Para criar uma publicação que seja aceita na plataforma da Amazon (e dispositivos Kindle), há diversos caminhos. O mais usual é fazer o download do Kindle Previewer e KindleGen, programas que podem converter ePUBs (e também arquivos HTML e XHTML) em um arquivo com suporte para Mobi, um formato que só pode ser lido em dispositivos Kindle ou MobiPocket Reader, lido em aplicativos Kindle para Mac/PC e lido com a extensão Kindle do navegador Google Chrome. Todos esses softwares têm acesso aos livros comprados na Amazon por meio de login e senha do leitor.
Além disso, o arquivo convertido pelo KindleGen também contém suporte para o formato KF8 (Kindle Format 8) que é o formato mais avançado de publicação digital do Kindle, que usa os recursos avançados como layout fixo, pop-up de textos, entre outros.
A Amazon disponibiliza um aplicativo para criação direta de livros em formato KF8, o Kindle Textbook Creator (ainda em versão beta). Esse programa cria livros para leitura no tablet do Kindle Fire e nos softwares Kindle para iOS/Android/Mac/PC, mas não é compatível com os eReaders Kindle de tela eInk (eInk é a abreviação de “electronic ink”, tinta eletrônica, a tecnologia por trás das telas de eReaders que não emitem luz ao leitor).
Crie arquivos Mobi apenas se tiver interesse em publicar na plataforma da Amazon e para ter livros nos dispositivos Kindle.
5. Livros do iBooks Author
O iBooks Author é uma ferramenta gratuita da Apple para a produção de publições digitais a serem distribuidas na iBooks Store, o sistema de vendas de livros da Apple. É uma solução com tecnologia autoral restrita apenas para leitura em iPads e em Macs. Portanto, mesmo se tratando de uma ferramenta de criação muito fácil de usar e atraente, ainda não é popular, devido a sua segmentação muito restrita. Um ePUB é mais flexível pois também pode ser vendido no iBooks Store e, além disso, ser disponibilizado no website do cliente, em outras plataformas de venda, convertido para Mobi visando a venda na Amazon etc.
Mesmo assim, tirando o aspecto restritivo de acesso e de mercado, as vantagens estéticas e interativas de um livro do iBooks Author são fortes. A ferramenta é extremamente intuitiva e fácil de usar, sem necessidade de conhecimentos em programação. Tem aliás recursos interessantes como um gerador de gráficos e tabelas e vários tipos de interatividade como slideshows, vídeos, um sistema de quiz com respostas certas e erradas, imagens interativas com balões que se expandem, imagens 3D, textos com barra de rolagem, pop-ups, recursos em HTML5 e audiodescrição do texto. Tem também um interessante recurso de criação de Glossário, muito útil para uso acadêmico.
Figura 5: Um Mac com o aplicativo iBooks Author e um iPad exibindo o livro produzido.
Fonte: Apple.
Um livro do iBooks Author, assim como um ePUB, também preserva o conteúdo do texto, que não é rasterizado (transformado em imagem), permitindo buscas, copiar e colar uma seleção de texto etc. Mas o layout das páginas sempre é fixo, não havendo a possibilidade de alterar as fontes e os tamanhos do texto.
Livros desenvolvidos pelo iBooks Author são muito bonitos, tem muitas interações avançadas e são bons para uso acadêmico. Mas seu alcance é limitado a produtos Apple.
6. Folio
Outro formato de livro digital disponível no mercado é o Folio. Desenvolvido pela empresa americana Adobe e comercializado a partir de 2010 por meio da plataforma Adobe Digital Publishing Suite (ADPS), esse formato permite uma experiência altamente rica e multimídia de livros e revistas digitais. Publicações em formato Folio oferecem interações difíceis de encontrar em outros formatos: hiperlinks, slideshows, animações de imagens que rotacionam em 360º, vídeos, áudios, pop-ups, conteúdo exclusivo para lista de leitores assinantes, conteúdo Web dentro da revista, panoramas de ambientes 3D. Outro recurso muito interessante é que o designer da publicação pode criar layouts alternativos das páginas caso o tablet ou smartphone esteja na orientação horizontal ou vertical. Se o leitor mudar a orientação de seu dispositivo móvel, o conteúdo da revista se adapta. A experiência e a imersão multimídia desse formato é extrema, além de não ter restrições de design editorial, podendo misturar imagens e textos à vontade.
Figura 6: Publicação digital em formato Folio. O layout se adapta de acordo com a orientação do dispositivo móvel.
Fonte: Editora FoxTablet.
Embora seja o formato utilizado por grandes editoras internacionais (Condé Nast) e nacionais (Abril com as revistas Veja, Exame etc) há algumas limitações que não tornam esse formato popular no mercado. Trata-se de um formato proprietário, pertencente à Adobe. O processo de produção de um folio ocorre apenas com a aquisição e uso do aplicativo Adobe InDesign (e uso dos plug-ins de InDesign para criação de Folios, embora estes sejam gratuitos). Além disso, o formato Folio só pode ser visualizado dentro de um aplicativo (ou APP), ficando restrito o acesso ao arquivo fora dele, seja para enviar a um amigo ou colega, por exemplo. Outro problema é o custo da publicação de um aplicativo. A publicação de um APP só é possível por meio da compra da plataforma ADPS da Adobe. No Brasil, atualmente, essa aquisição deve ser feita diretamente com a empresa Adobe no Brasil, por meio de orçamento baseado no tamanho da equipe de trabalho que irá usar a plataforma, quantidade de leitores que devem ser integrados no login e senha de conteúdo exclusivo, etc. Esse orçamento pode chegar em torno de R$ 20.000 anuais, devendo ser renovado a cada ano. Logicamente, tal formato, embora seja de extrema qualidade, está restrita às grandes editoras ou a clientes com grande orçamento. Importante anotar também que vendas avulsas de folios ou vendas de assinaturas de folios dentro do APP criado envolverá também o pagamento de uma taxa (em geral 10% do valor da venda) para a Apple ou o Google.
Também é preciso destacar que o conteúdo de texto de um folio é menos acessível do que o de um ePUB, pois o texto de um Folio é usualmente convertido em imagem (rasterizado, no termo técnico) o que impede esse texto de ser selecionado ou copiado. Caso esse texto não seja rasterizado (possível por meio de produção de páginas Folio em HTML), mesmo assim esse texto não terá recursos avançados de metadados disponíveis no ePUB 3. Ou seja, o Folio apresenta uma experiência multimídia rica e impactante, mas seu uso é mais restrito para uma experiência principalmente focada no visual, sendo que seu uso é menos recomendado para textos extensos, acadêmicos ou que necessitem de acessibilidade para pessoas com deficiência.
Outro foco interessante do Folio são seus recursos para marketing e ROI, uma vez que a plataforma fornece métricas detalhadas de quantas pessoas acessaram seus Folios, qual é o artigo, capítulo ou anúncio mais popular, quais as interatividades mais acessadas etc.
Atualização: De Digital Publishing Suite para Digital Publishing Solution
A Adobe está atualmente desenvolvendo uma versão nova e atualizado de sua solução de publicação digital. Chama-se Digital Publishing Solution (mantendo portanto a sigla DPS). Esse novo sistema, no momento desta publicação, ainda está em fase de beta-teste, mas a Adobe já adiantou que haverá a possibilidade de integrar os folios com o sistema da Adobe Marketing Cloud para melhor controle de como os artigos estão sendo acessados. Além disso, será possível agrupar o conteúdo dos folios em diferentes tipos de coleções, permitindo muita flexibilidade nas publicações para smartphones, tablets e Web.
Use o Folio para criação de revistas e periódicos ricos em imagens e interatividades. Tem importante suporte para marketing, com métricas importantes para os anunciantes da revista.
7. Plataformas alternativas ao Folio
Há muitas soluções à venda no mercado de publicações digitais para mobile similares à solução com o Folio da ADPS. São plataformas que permitem, por meio de plug-ins para o Adobe InDesign (ou Quark), gerar publicações digitais e gerar APPs de visualização dessas publicações. Geralmente, elas não têm todos os recursos requintados da ADPS, mas costumam ser mais baratas.
A lista dessas plataformas é grande, e poderá variar com a adição de novos concorrentes. A seguir, as principais no mercado:
– App Studio: A solução do Quark para publicação digital. Fornece plug-in para QuarkXPress 10 (e para InDesign também) na qual é possível inserir muitas interatividades em publicações digitais: imagens 360º, animações, áudios, vídeos, hiperlinks, geolocalização, pop-ups, texto selecionável, slideshows, imagens e textos com barras de rolamento. Além das publicações, fornece ferramentas para criação de APP para iOS (o sistema operacional dos dispositivos móveis da Apple) e Android.
– MagTab: Permite a criação de APPs para iOS, Android e visualização Web. Permite inserir áudios, vídeos, hiperlinks e slideshows nas publicações. Conta com métricas que contabilizam o número de acessos, localização geográfica dos leitores pelo Brasil, páginas mais acessadas etc. Permite vendas avulsas ou por assinatura. Não utiliza plug-ins, uma vez que se baseia no simples upload de PDFs para o servidor. Uma vez feito o upload, basta o designer acessar a plataforma online, selecionar o PDF e definir as áreas das páginas em que haverá interatividade.
– MavenApp: Produto da Maven que permite criação de APPs para iOS, Android e visualização na Web. Também permite inserir áudios, vídeos, hiperlinks e slideshows, e realizar pesquisas textuais. Conta com estatísticas de acesso e controle de assinantes.
– Twixl Publisher: Fornece um plug-in para Adobe InDesign para a criação das publicações interativas, além de um aplicativo para Mac que permite criar APPs para iOS, Android e Kindle Fire. Além disso, é possível visualizar essas publicações na Web.
Soluções alternativas que são recomendadas se a sua publicação precisa estar presente no universo mobile por meio de um APP com sistema de vendas avulsas ou por assinatura.
8. Aplicativos
Ao invés de usar a plataforma ADPS para gerar um APP de leitura de Folios (ou uma plataforma alternativa), um editor pode também criar o seu próprio aplicativo. Um aplicativo, ou APP, não é um arquivo digital que exige um software para sua leitura: o APP já é o próprio software! Sendo assim, basta a sua instalação no computador ou dispositivo móvel para acessar o conteúdo, não sendo necessário a instalação de outros softwares.
Um APP pode conter apenas uma publicação digital, ou pode ser uma plataforma de leitura de várias publicações digitais. Os recursos de um aplicativo são… inúmeros. Qualquer tipo de interatividade possível de ser programada com o hardware em questão pode ser inserida. Usar o sensor de movimento de um tablet para fazer uma ilustração se mover? Sim, é possível. Integração com a câmera do tablet para que a capa do livro seja uma foto do leitor? Sim, é possível. Integração com as redes sociais para compartilhar no Facebook que você terminou de ler o livro? Sim, também é possível. Poder salvar o feedback e a interação do leitor em um banco de dados? Sim, totalmente possível!
Ocorre que o designer, para criar o seu próprio aplicativo, sem as opções de automatização e padronização oferecidas pelo ADPS ou plataformas alternativas, precisa ter muito, MUITO conhecimento em programação. Pois será preciso criar um aplicativo do zero, ou, provavelmente, mais de um aplicativo, caso queira que o APP seja acessível em mais de um sistema operacional (Apple, Android, Windows, Blackberry etc). E esses sistemas irão demandar diferentes códigos de programação e um prazo maior de produção para testes.
Portanto, a altíssima exigência técnica de se criar um aplicativo é o principal limitador para publicações digitais nesse formato. Isso costuma ser contornado pela contratação ou aquisição de uma equipe técnica especializada. Mas uma vez superada essa barreira, as vantagens são visíveis: a aquisição de uma plataforma de leitura única e personalizada, sem a necessidade de estar atrelado ao pagamento de uma plataforma externa de publicação. Lembre-se apenas que ao vender APPs em dispositivos mobiles ainda é preciso pagar a taxa de 10% para a Apple ou Google para cada venda (a não ser que seja um APP gratuito).
Figura 7: Interface do programa Xcode, voltado para a criação de aplicativos da Apple que podem ser usados tablets e smartphones.
Fonte: Apple.
Figura 8: Interface do livro digital “Alice for the iPad”. O aplicativo foi criado de forma que o leitor pode interagir com os desenhos.
Fonte: Atomic Antelope.
Um aplicativo permite total domínio dos recursos do dispositivo móvel: GPS, câmera, integração com outros aplicativos, com a Internet, com bancos de dados na nuvem… O céu parece o limite, caso tenha uma equipe que domine programação.
9. Flipbook
Por fim, vale destacar uma última opção de publicação digital, que está rapidamente em desuso: são as publicações em formato de Flipbook com animação Flash. Trata-se na verdade de uma animação feita em tecnologia Flash, da Adobe, que simula um livro, mostrando viradas de páginas animadas com som quando o comando de próxima página é acionado. Essa animação lúdica do virar da página é chamado de “flip”, virar em inglês, daí o termo popular Flipbook.
Figura 9: Exemplo de Flipbook na qual há uma animação das páginas sendo viradas.
Fonte: Bak Magazine.
Embora o processo de fabricação dessa publicação é relativamente fácil, principalmente por meio do Adobe InDesign, o formato está em desuso. Ele é visualmente bonito, porém pouquíssimo acessível. Os textos desses livros, por exemplo, não podem ser selecionados e copiados, por exemplo, e não há diferenciação das seções pré-textuais, textuais e pós-textuais, como é possível com o ePUB 3. Além disso, a baixa acessibilidade também ocorre pelo fato que os dispositivos móveis da Apple são fabricados de modo a não exibir animações Flash em suas telas. Arquivos, websites e documentos que tenham essas animações apresentam um espaço vazio ao serem visualizados nesses dispositivos.
Flipbook acessível: entra o HTML5
Visando contornar este problema, programadores têm desenvolvido a exibição de Flipbooks com base em animação em HTML5, uma tecnologia que não é barrada nos dispositivos Apple. Porém, essas soluções costumam exigir a compra de um programa expecífico de geração de Flipbooks em HTML5, além de que a qualidade em relação à flexibilidade e acessibildade são muito variáveis de uma solução para a outra.
Use o Flipbook como uma forma fácil e barata de simular uma revista na Web, e só.
Espero ter mostrado um panorama realista e diverso das publicações digitais. Claro que algumas opções logo se tornarão obsoletas, outras irão surgir e mudar o mercado. Por isso, é necessário ficar atento aos formatos, aos mercados, aos meios de comercialização e distribuição.
Caso tenha interesse em conhecer algumas dessas publicações, fique à vontade para conhecer o portfólio da editora FoxTablet.
– Exemplo gratuito de publicação em formato ePUB (especificação ePUB2): Música Visual.
– Exemplo gratuito de publicação em formato ePUB (especificação ePUB3 com layout fixo): Luzes contra o vazio.
– Exemplo gratuito de revista digital para iOS, Android e Web: Palmas de Ouro.